Olha. O Rio que salta. É meu projeto final. Junto a escola de artes visuais do Parque Lage. Posso te contar como aconteceu? Então. Praça Mauá. Domingo de sol. Meninos. Retintos. Saltando. Na Bahia de Guanabara. E me chamou atenção. Um rapaz. Negro. Retinto. Distante. Sentado. De óculos escuros. Pernas cruzadas. Com uma pequena câmera. Muito tranquilo. Fotografando os meninos. Eu. Curioso. Já que ele estava distante. E com um pequena câmera sem zoom. Sentei ao lado dele. E perguntei como estava ficando as fotos. Ele respondeu. Estão ficando ótimas Wendy! Pera. Como tu sabe meu nome? Ele. Tem como esquecer? Tu vive aqui. Aqui é o teu RIO QUE SALTA. E tu gosta desses meninos. Eu percebo. Respondi. Sim! Gosto muito desses meninos. Mas qual é o teu nome? Com um sorriso. Respondeu. Hugo! Papo vai. Papo vem. Falei que não entendia. Por que os meninos saltavam tão alto. Já que eles poderiam apenas pular no Rio. E Hugo responde. Convenhamos Wendy. Um menino preto precisa sempre saltar mais alto. Fiquei em silêncio. E depois de um tempo. Hugo me pergunta. Qual é o nome da tua mãe? Mesmo se entender. Respondi. Janaína. Hugo sorri e diz. Janaína, rainha do mar. Agora eu entendi essa tua paixão. Por meninos saltando no mar. O que tu faz aqui Wendy. É manutenção de afeto. Bonito Wendy! Bonito Wendy! E Hugo novamente sorri. Até que um dos meninos me chama. Eu levanto. E vou até o Rio fazer uma foto. E quando olho pra trás. Hugo está indo embora. Com uma bengala. Eu grito o nome dele. Corro até a ele. O alcanço. E pergunto. Hugo, você é cego? Ele sorri. E diz. Por mais que meus olhos não funcionem. Isso não me impede de ver, Wendy. Eu. Sem saber o que dizer. Peço o seu contato. E pergunto se podemos ser amigos. Hugo novamente sorri. E diz. A gente se vê por aí. Eu tô sempre aqui. Você também. Nossa amizade em algum momento vai florescer. Eu atravesso o sinal com Hugo. E fico olhando ele indo embora. Até ele desaparecer no fim da rua. [continua nos comentários]