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Meu vizinho de rua nos meus anos de garoto, ídolo. 1997. Jô estava lançando, na França, seu primeiro romance, “O Xangô de Baker Street” (“Élémentaire, ma Chère Sarah''), sobre o qual foi convidado a falar no mais importante programa de TV literário do país, “Bouillon de Culture”, comandado por Bernard Pivot. A literatura é esporte nacional por lá, e os debates eram de altíssimo nível, acompanhados por audiência enorme. Embora fossem favas contadas que arrasaria, Jô estava nervosíssimo. Num francês impecável, colocou os bambas seriíssimos para gargalhar. Todos apaixonados por sua perspicácia, sua inteligência. O grande escritor Jean d’Ormesson disse que ele deveria fazer parte para sempre do programa. Um homem do mundo, mas seu grande amor era o Brasil. Pedra fundamental da construção cultural do nosso país nas últimas seis décadas, sentar-se em seu sofá era um aval, uma honra (que generosamente recebi quando lancei, no Onze e Meia, meu primeiro livro). Mas, em suas mais de 14 mil entrevistas, a maioria era de anônimos, apenas pessoas com boas histórias para contar, pelas quais ele era tão apaixonado e que tinha o dom de transformar nas mais interessantes do universo. Certa vez, perguntou: “Fala a verdade, eu não deixo os entrevistados falar?” Respondi: “Até deixa, o que é uma pena, porque a gente quer mesmo é ouvir você”. Risadas! Trocávamos também figurinhas sobre a educação de PCDs; ele pai do Rafa; eu, irmão da Emi e então diretor de uma escola especializada em deficiência neurossensorial. Rafa e Emi, dois artistas. Queridos! Para comemorar o sucesso inegável da entrevista francesa, ele convidou a mim e @karmitamedeiros para jantar. Levei um monte de bexigas coloridas. E Jô foi nos buscar num carro possante e poderoso que tinha alugado, só que micro, mínimo. Eu e Jô imensos; fui com a perna para cima, Karmitinha quase virando o pescoço, os balões prensados na cara de todo mundo, e ele: “Acho que calculei mal”. Abriu o capô e os balões voaram pelo céu de noite gelada estrelada, pela Champs Elysées. É assim que eu vejo a partida do gênio José EuGÊNIO Soares, o nosso Jô. O céu em festa, o Rafa também. Grande mestre! 🙏🏻 arte de @umsabadoqualquer
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